Composição para corpo na rua

O objetivo desta proposta é realizar uma oficina teórica/prática que resultará em uma performance em um espaço público monitorado por sistema de câmeras de vigilância.

Nossa intenção é investigar, refletir e responder coletivamente, por meio de uma composição cênica, às seguintes questões:

Como o corpo é visto na cidade?
Quais os limites entre o que chama a atenção e o que passa desapercebido?
De que maneira os sistemas de monitoramento normatizam os espaços vigiados?
A quem pertence o espaço público?

Nas grandes metrópoles latino americanas, assistimos à higienização e à gentrificação de espaços públicos. A ocupação das ruas torna-se cada vez mais regulada por dispositivos de controle como alvarás, licenças, autorizações, permissões.

Historicamente, os circuitos de vigilância atuam no sentido do controle social e da proteção da propriedade privada. Porém, a multiplicação de câmeras em diversas instâncias ampliou e tornou complexas as utilizações desses dispositivos – visando também o consumo, o voyeurismo, o exibicionismo e a contra-vigilância para citar alguns exemplos. Simultaneamente, na mesma medida em que cresce o número de câmeras ditas oficiais ou com “credenciais” – dos circuitos de segurança, do jornalismo, da publicidade  aumentam as restrições ao seu uso pelo cidadão comum, surgindo, a partir daí, inúmeros questionamentos, sintetizados sob a idéia de direito de imagem.

A observação do espaço e a interpretação das imagens registradas baseiam-se em determinados parâmetros. Que parâmetros são estes? Além disso, sob outro registro, os habituais transeuntes também estão acostumados a uma certa regularidade. Quando e a partir de que movimentos ela pode vir a se quebrar?

Neste contexto, a livre circulação e utilização da rua por performers pode ser transformadora. Ao perturbarem a regularidade do cotidiano, os artistas realizam uma dupla operação, questionando tanto os limites da rua enquanto espaço a ser utilizado e vivenciado pelo comum, quanto os limites da própria arte, à medida que não se restringem às fronteiras dos palcos, museus, galerias, e demais lugares convencionalmente associados à criação artística. Ao mesmo tempo, ao se realizar em meio aos fluxos urbanos, este trabalho força a arte para além do virtuosismo esperado dos corpos de artistas socialmente reconhecidos.

Perguntando, com o corpo, na rua: qual o sentido da arte?

paoleb + marta perez

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